Calma. Você não precisa deixar de viver para viajar.

Imagine a cena: estou num restaurante japonês com alguns amigos quando chega um outro amigo, senta-se na mesa e diz que não vai comer. Quando perguntamos o porquê ele disse: “Tenho que guardar a grana da Austrália, né? Vou comer uma coxinha no boteco aqui do lado quando sairmos”. Isso foi real e aconteceu exatamente nesses termos e justificativa.

Eu sou uma das pessoas mais econômicas que eu conheço. Sempre fui. Mesmo antes de descobrir o que era viajar e querer gastar o meu dinheiro com isso. Mas eu nunca deixei de viver por isso.

Todos os dias eu acordo, tomo meu café da manhã, pego o ônibus, vou pro trabalho, almoço num restaurante de preço justo, volto pra casa de ônibus, mas antes passo no mercado para fazer a compra da semana, compro um vinho também mesmo que para tomar sozinha. Quando fico com muita, mas muita preguiça, peço alguma coisa para comer em casa. E muitas vezes saio para jantar com o namorado ou com as minhas amigas que não vejo há tempos. Se não podemos jantar, marcamos um almoço. Ou tomamos um café. Nos finais de semana gosto de ir à alguma exposição, ou show, ou cinema para talvez jantar depois em algum restaurante gostoso. Aos domingos, detesto almoçar sozinha, portanto sempre combino de almoçar com alguém. Isso quando não viajo para BH, onde fica a família do meu namorado. Não posso esquecer de deixar o dinheiro da D. Darci que essa semana ela vem fazer a limpeza em casa. Quando acho que estou (de verdade) precisando de um brinco, eu compro. E esses dias vi uma sandália no pé de uma amiga e comprei uma igual online na hora. Amei! Considerei como meu presente de Natal. Aliás, comprei uns outros presentinhos de Natal para os mais chegados. No réveillon não fiz nada porque tinha acabado de voltar de uma viagem da Patagônia e porque acho tudo muito caro e muita muvuca. Preferi guardar meu dinheiro para viajar fora de temporada. Já vi também a lista de shows que acontecerão em São Paulo esse ano e tem vários que quero ir.

Como você pode ver, uma vida normal. Mas então o que eu economizo?

Eu economizo aquilo que não é prioridade pra mim

Definir o que é prioridade seria injusto, uma vez que isso varia de pessoa para pessoa. Do mesmo jeito que viajar é prioridade para mim, comprar um apartamento é prioridade para outra pessoa. Prioridade é relativo. Depende de quanto você ganha, do quanto você pode economizar e do momento que você vive. É por isso que economizar em carro e andar de transporte público funciona pra mim, mas pode não funcionar pra você.

No entanto, todo mundo tem alguma coisa na vida que não faz questão de gastar, ou melhor, que prefere não gastar. Eu, por exemplo, não gosto de ir pra balada. Sei que cada vez que eu vou, é um dinheiro gasto à toa. Depois de muito gastar R$ 200 numa noite, cortei baladas da minha vida. Mas não corto, por exemplo, o show de uma banda que gosto muito (que graçasadeus acontece esporadicamente). Também tenho a sorte de gostar de eventos culturais: exposições, teatro, orquestra sinfônica, museus… São programas, na maioria das vezes, bem baratos.

Outra coisa que é prioridade pra mim: morar sozinha e bem localizada. Eu gasto um bom dinheiro com aluguel e não consigo abrir mão disso. Mas ter carro pra mim não é prioridade. Assim como ir à manicure toda semana, comprar roupas todo mês, fazer happy hour toda sexta, etc.

Seria lindo se conseguíssemos viver sem nada: sem carro, sem ter que pagar aluguel, sem diversão, sem almoço gostoso, sem jantar com as amigas, sem comprar roupa nenhuma… Mas a gente não consegue, porque a gente precisa viver! Todo mundo sabe que depois das necessidades básicas do ser humano (comer, morar e água) entram outras necessidades. A gente não quer só comida. A gente quer bebida, diversão e arte.

E já que nós precisamos viver a vida e não dá para abrir mão de tudo, o que podemos fazer é entender o que é mais importante pra gente e o que não é. Entendendo isso, você já consegue traças as prioridades da sua vida e consequentemente seus gastos.

A palavra é equilíbrio

Eu adoraria jantar todas as semanas em algum restaurante bacana com os amigos. Mas não dá. Cada vez que isso acontece eu gasto no mínimo R$100. “Mas Amanda, você vai ficar sem dinheiro se isso acontecer?” Não, não vou. Mas pesa no meu orçamento – sei disso porque sou organizada, tenho tudo em planilha, confiro item por item do cartão de crédito. Mas nem por isso, eu chego no restaurante com os meus amigos e não como porque tenho que guardar dinheiro para viajar. Se for pra não comer, eu nem vou (afinal, ninguém precisa saber das minhas economias ou me achar mão-de-vaca, não é mesmo?). Mesma coisa com bar – se é pra não beber, eu não vou.

Mas é aí que entra o equilíbrio – você saber que não precisa deixar de ir, mas que você pode ir com moderação, de forma controlada.

Para comprar roupas é a mesma coisa. Tomei uma atitude radical de não comprar nada porque, sinceramente, eu tenho muita roupa. Muitas ainda com etiqueta. Sapatos também – meu namorado olhou para os meus sapatos esses dias e me perguntou porque eu não vendia os que eu não usava. São muitos e foi uma ótima ideia. Portanto, eu tive que dar um jeito de colocar na minha cabeça que eu não preciso no momento comprar roupas e sapatos, mas se vier a precisar eu vou comprar. Mas o equilíbrio é esse: o que eu preciso (ou o que eu amo muito).

Obs: Uma dica boa quando eu caio na tentação de comprar alguma roupa ou acessório é primeiro me perguntar se preciso. Se a resposta for não mas ainda assim quiser comprar, eu me pergunto: “Eu amei muito essa peça?”. Se eu não amo, eu não compro.

Força de vontade

Eu já disse que viver é importante, que é necessário ter prioridades na vida para conseguir controlar gastos e ainda ter equilíbrio para a vida não ficar chata. Mas para não perder a linha – porque é bem possível que nessa vibe “viver o dia de hoje” você perca a linha dos gastos – é preciso ter força de vontade.

Comprar uma roupinha vai ser sempre bom e sempre vai ter deixar feliz momentaneamente. Mas lembra que você não está precisando dela? Pois é, nessas horas que entra a força de vontade. E força de vontade é prática, é como querer emagrecer: você coloca na sua cabeça que não vai mais comer um doce depois do almoço. No primeiro dia é ruim, no segundo também e provavelmente durante o resto da semana, cada vez que você terminar de almoçar, vai ter que lembrar do doce e ter força de vontade para não comê-lo Até o momento que não comer mais se torna um hábito. Comprar coisas desnecessárias funciona assim também. Primeiro você tem que se controlar e depois vira um hábito – como virou pra mim na minha lista de “não-prioridade”.

No livro “O Poder do Hábito”, o autor Charles Duhigg diz algo muito interessante: “É assim que a força de vontade se torna um hábito: você escolhe um certo comportamento, e então segue essa rotina quando um ponto de inflexão aparece”. Ou seja, você segue a rotina de não comprar, não gastar, não gastar de novo até que ela passa a acontecer naturalmente. Se torna um hábito.

E é exatamente isso que acontece comigo. Economizar nas coisas que eu não preciso já se tornou um hábito na minha vida. E de todas as recompensas que eu poderia escolher – sim, porque economizar tem que ter uma recompensa – eu escolhi viajar. Pelo menos por enquanto a minha prioridade é essa. E, me desculpe, mas até hoje não houve sapato novo ou celular da moda que fizesse com que eu me arrependesse da minha escolha.

Ilustração: Fiverr

 

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